“Eu sou aquela mulher
a quem o tempo muito ensinou.
Ensinou a amar a vida
e não desistir da luta,
recomeçar na derrota,
renunciar a palavras
e pensamentos negativos.
Acreditar nos valores humanos
e ser otimista.”
(Cora Coralina – poetisa e escritora brasileira que publicou seu primeiro livro aos 75 anos de idade)
8 de março, Dia Internacional da Mulher, mais do que um data comemorativa, é um momento de reflexão sobre o papel da mulher na sociedade, e sobretudo, um dia de luta em defesa dos direitos das mulheres.
No último dia 2 de março, assistimos cheios de ansiedade a premiação do Oscar 2025, no qual a talentosa brasileira Fernanda Torres concorria como Melhor Atriz pelo agora vencedor do Oscar de Melhor Filme Internacional “Ainda Estou Aqui.”
A estrela Fernanda Torres brilha no papel de Eunice Paiva, uma mãe de 5 filhos, mulher de meia idade, dona de casa e que teve sua vida tranquila e feliz virada do avesso ao ter que enfrentar o brutal desaparecimento e morte do marido Rubens Paiva durante a ditadura militar brasileira.
A atuação de Fernanda Torres é absolutamente visceral!
Sua interpretação de uma mulher forte, contida, resiliente, determinada e mãe dedicada é tocante e emocionante.
As plateias em todo o mundo se emocionaram e choraram pela dor de Eunice Paiva.
Neste ano, cinco mulheres concorriam ao prêmio mais icônico do cinema mundial:
1 mulher trans
1 mulher negra
1 mulher +50
1 mulher +60
1 jovem mulher de 25 anos
A famosa atriz Demi Moore, aos 62 anos de idade, era considerada uma das favoritas ao Oscar de Melhor Atriz por sua interpretação poderosa no filme “A Substância”, que aborda exatamente a obsessão de uma mulher madura pela eterna juventude.
O filme tem uma forte crítica ao mundo do entretenimento que exige e pressiona as mulheres a manterem uma aparência jovial e com corpos magros.
Além disso, “A Substância” também aborda a forma como a sociedade ‘usa’ as mulheres, tratando-as como produtos descartáveis quando não atendem mais aos padrões exigidos pelo mundo do cinema dominado por homens.
A grande ironia do Oscar foi dar o prêmio de Melhor Atriz para a jovem e promissora atriz Mikey Madison pelo filme “Anora”, deixando para trás mulheres experientes, famosas, com atuações potentes e com carreiras impecáveis no cinema.
O etarismo bateu forte na escolha de melhor atriz; o que fica bem claro diante dos dados que reforçam a prática do preconceito etário na indústria cinematográfica, principalmente contra as mulheres.
Conforme a revista Vogue, um estudo feito entre 2010 e 2020 pela consultoria americana Next 50 em parceria com o Geena Davis Institute constatou que, desde 1930, ou seja, há 95 anos, apenas 19% das vencedoras na categoria de Melhor Atriz tinham 50 anos. Enquanto isso, 34% dos vencedores do prêmio de Melhor Ator eram 50+, mostrando uma diferença de gênero de 15 pontos percentuais.
A coisa fica ainda pior para as categorias de Coadjuvantes, onde 43% dos vencedores do sexo masculino e 24% das vencedoras do sexo feminino têm mais de 50, uma diferença de gênero de 19 pontos.
Enquanto isso, homens na mesma faixa etária seguem dominando os filmes em 80%. O mesmo acontece em outras mídias: na TV aberta eles são 75% e no streaming 66%.
Parece que ser jovem é requisito fundamental para o reconhecimento do talento feminino perante a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas.
Não basta parecer jovem, se manter interessante, com uma pele bem cuidada e um cérebro inteligente, tem que ser bela e jovem na idade para a indústria do entretenimento.
O mundo do cinema é bem mais tolerante com o envelhecimento dos atores; quase sempre eles são considerados homens atraentes e charmosos mesmo com as marcas visíveis da velhice em seus corpos.
Já as mulheres ainda sofrem muitos preconceitos, sejam eles pela idade, raça, aparência e condição social.
Importante frisar que, desde a primeira edição do Oscar em 1929, somente duas atrizes estrangeiras foram vencedoras atuando em outro idioma: Sophia Loren venceu o Oscar de Melhor Atriz em 1962 por “Duas Mulheres”, atuando em italiano e Marion Cotilard em 2008 por “Piaf”, atuando em francês.
Infelizmente, o maior prêmio do cinema mundial ainda não está preparado para reconhecer e premiar o talento de atrizes atuando em língua não-inglesa.
Ainda precisamos lutar e exigir para que seja garantida a representatividade feminina em todos os lugares, independente de sua idade e nacionalidade!
Como está a vida da mulher brasileira?
Aqui no Brasil enfrentamos o pior de todos os desafios impostos às mulheres: a violência.
O Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2024 registrou 1.467 feminicídios, o maior número desde a criação da lei que criminaliza esse tipo de violência, em 2015.
Em 2024, os dados sobre violência contra a mulher no Brasil indicam um aumento de feminicídios e um aumento de denúncias no disque 180.
O Monitor de Feminicídios do Brasil registrou um aumento alarmante de feminicídios em 2024, com destaque para os estados de São Paulo, Paraná e Bahia.
Os dados são estarrecedores, preocupantes e exigem uma resposta rápida das autoridades de segurança pública para conter o aumento avassalador da violência contra a mulher.
Esse é o retrato macabro da “via crucis” feminina em um país violento, machista e misógino.
As mulheres estão sendo caçadas e mortas simplesmente porque são mulheres.
Nos últimos anos, a violência física e moral contra a mulher aumentou absurdamente em nosso país; virou rotina os casos de feminicídios, onde na maioria das vezes as mulheres são agredidas e assassinadas por seus maridos, companheiros ou namorados.
Nunca tantas mulheres sofreram violência pelas mãos de seus parceiros, em nome do “amor”, da hhonra”, por ciúmes ou pelo simples fato de serem mulheres.
É uma rotina macabra de abusos físicos, sexuais, morais, assassinatos e desrespeito às mulheres brasileiras.
Essa escalada da violência de gênero é o triste resultado em um país que carece de políticas públicas eficazes e punições mais severas para combater a violência que aterroriza as mulheres.
No Brasil, o machismo é cultural e estrutural; uma sociedade patriarcal que estimula os meninos à comportamentos agressivos e de dominação em relação às meninas; e isso se reflete na idade adulta quando os homens veem as mulheres como objetos a serem usados, abusados e descartados.
É um círculo vicioso de violência que precisa ser freado!
As mulheres, muitas vezes, têm medo e vergonha de denunciar seus agressores, seja por não ter uma rede de apoio ou simplesmente por desconhecer seus direitos perante a Justiça.
Precisamos urgentemente fazer uma profunda reflexão para que possamos combater à violência, muitas vezes, promovida pelo discurso de ódio e machista contra a mulher.
Precisamos de políticas públicas eficientes e do fim da “cultura” machista no Brasil.
Além de toda violência sofrida pelas mulheres brasileiras, ainda temos que enfrentar o preconceito na esfera profissional, que é muito grande em nosso país; ainda recebemos salários menores que os dos homens mesmo quando desempenhamos funções semelhantes; o acesso ao mercado de trabalho é prejudicado pela falta de apoio e incentivo público e privado; e para as mulheres que são mães a realidade é ainda mais difícil para seu pleno retorno à vida profissional.
E para complicar ainda mais esse cenário, somos nós quem arcamos com a dupla jornada de trabalho e afazeres domésticos.
Vejo muitas mulheres competentes, talentosas e inteligentes, que estão fora do mercado de trabalho, simplesmente porque as oportunidades não surgem ou porque com filhos pequenos e sem uma rede de apoio eficiente, não conseguem retornar ao trabalho.
Sem contar o etarismo escancarado contra as mulheres maduras; parece que mulheres 50/60+ se tornam invisíveis aos olhos dessa sociedade patriarcal.
Acredito que a desigualdade de gênero no mercado de trabalho está diretamente ligada à baixa representatividade da mulher na política brasileira.
O caminho para revertermos essa dura realidade passa certamente por uma maior participação da mulher na política brasileira, para que assim possam ser implementadas políticas públicas eficazes, garantindo o acesso ao mercado de trabalho e combatendo às desigualdades sofridas pelas mulheres na vida profissional e social.
Infelizmente, ser mulher no Brasil hoje é sofrer todo tipo de violência, ataques, insultos, ofensas, preconceitos e agressões, simplesmente por SER MULHER.
A sociedade brasileira ainda tem um longo caminho a percorrer para assegurar os direitos e proteger a vida das mulheres.
Hoje e sempre, eu sou aquela mulher que luta por um mundo mais acolhedor, justo e feliz para todas as mulheres!
Ser mulher em qualquer lugar do mundo é um ato de resistência.