A história de Seu José, hoje com 62 anos, é daquelas que merecem ser contadas como uma síntese da resiliência brasileira. Menino nordestino que chegou a São Paulo nos anos 60, acompanhando os pais em busca de trabalho e de um futuro que a seca negava em sua terra natal, ele viveu as agruras de uma infância comum a milhares de migrantes: antes de brincar, era preciso trabalhar. Embalagens de mercado, picolés vendidos na rua, entregas de todo tipo. Estudar? Esse era um privilégio distante, que a fome e a necessidade não permitiam.

Ainda assim, a vida lhe deu uma fagulha de esperança: ao conseguir emprego como ajudante em uma oficina mecânica, Seu José não só aprendeu um ofício, como descobriu uma paixão pelos carros. Essa paixão nunca o abandonou, mesmo quando os desafios mudaram de forma. Ele repetia para si mesmo uma promessa simples, mas poderosa: “vou trabalhar para que meus filhos possam ter os estudos que eu não tive”.

Foi dentro de seu táxi, em uma manhã qualquer de São Paulo, que tive o privilégio de ouvir essa história diretamente de quem a viveu. Com a serenidade de quem olha para trás sem amargura, mas com orgulho, Seu José me contou como, após alfabetizar-se no Mobral e concluir o supletivo já adulto, encontrou forças para, depois dos 40, se formar em Matemática. Hoje, dirige seu táxi de manhã (talvez pelo prazer dos motores que nunca abandonou) e, à noite, dá aulas em uma escola pública.

A história não parou nele. Murilo, o caçula, formou-se em Administração, assim como Maria Alice, a mais velha. Maria Cecília trilhou outro caminho, tornando-se médica. O pai, que sonhava com a educação dos filhos, viu sua promessa cumprir-se em cada diploma erguido. E Murilo, inspirado pelo exemplo, tornou-se sócio do pai. Juntos, administram uma pequena frota com quatro táxis e uma van de transporte executivo. As irmãs também participam, cada qual trazendo conhecimentos e perspectivas. Não é apenas a soma de esforços individuais, é a multiplicação de talentos.

Pesquisas recentes apontam que empresas familiares, quando conseguem unir diferentes gerações em torno de objetivos comuns, alcançam maior longevidade e resiliência do que a média. Um estudo do Family Business Institute mostra que negócios com sucessão planejada entre pais e filhos têm 30% mais chances de atravessar crises econômicas. É justamente o caso de Seu José e Murilo: a sabedoria prática de um lado, a visão estratégica de outro.

O que se vê, portanto, não é apenas um exemplo de mobilidade social, embora o seja. É também a prova de que o diálogo entre gerações pode ser transformador. De um lado, a garra e o instinto de sobrevivência de quem cresceu em tempos de escassez. Do outro, o conhecimento formal e as ferramentas contemporâneas, que permitem inovar e ampliar horizontes. Quando se encontram, esses dois mundos geram não só prosperidade financeira, mas algo maior: a certeza de pertencimento, de continuidade, de legado.

Em tempos em que tanto se discute a fragmentação social e a individualização extrema, a história de Seu José e Murilo nos lembra de que há vitórias que só acontecem em família. Não pela ausência de dificuldades, mas pela capacidade de somar sacrifícios, sonhos e conquistas. A união multigeracional é, em última análise, uma aliança estratégica. Uma que, ao contrário das corporativas, não se dissolve com contratos, mas se fortalece a cada refeição compartilhada, a cada aprendizado transmitido, a cada obstáculo vencido.

Essa é a vitória de Seu José, de Murilo e de todos nós que acreditamos que, quando pais e filhos se encontram no mesmo propósito, o futuro deixa de ser uma incógnita para se tornar uma promessa cumprida.

Não perca nada: assine nossa newsletter!

Receba histórias inspiradoras, dicas práticas e novidades exclusivas direto na sua caixa de entrada. Junte-se à conversa!

plugins premium WordPress

Menu