Eu passei dois ou três dias muito introspectivo. Se alguém me visse de longe, assumiria equivocadamente que eu estava triste. Em determinado momento, a Valéria se virou e disse: “Você está estranho”. Eu não neguei, eu realmente estava estranho, mas comigo mesmo. Dias depois, tudo estava bem novamente. Porém, a reflexão sobre “aqueles dias” não foi esquecida. Acho que “aqueles dias” foram uma janela extemporânea onde questionei se a minha vida atual tem sido vivida com a plenitude que almejo.

Curiosamente isso ocorreu dias depois da minha vivência de respiração holotrópica já contada no meu blog pessoal. Será que a vivência, que se propõe a expandir a consciência, mexeu com algumas coisas dentro de mim? Talvez.

Nas minhas ponderações sobre o “meu jeito estranho”, eu constatei que não era algo somente que vinha de dentro de mim, mas também do mundo exterior. De alguma forma, me sinto contaminado pelas mazelas atuais da sociedade, o mundo extremista, polarizado, que nos cerca e se traduz nos pequenos fatos do cotidiano, como o trânsito e a fila do supermercado. Isso me desmotiva com a perspectiva do mundo nos próximos anos. As pessoas não estão bem, temos uma redução considerável no nível de compaixão, generosidade e aceitação da diversidade.

Isso me faz pensar sobre viver fora de uma grande cidade, “fugir” para o interior de Goiás, ir para Chapada dos Veadeiros, sei lá! Será que o isolamento realmente ajudaria? Talvez funcionasse apenas como uma fuga.

No meio da minha salada de reflexões, entre um e outro devaneio fortuito, surgiu um insight. Será que estou me sentindo entediado? Será que é isso? Tédio?

Será que eu preciso de algo novo na minha vida?

Fiquei pensando nessa pergunta por alguns dias até ouvir o episódio 11 do Videocast (e podcast) “Tantos Tempos”, de Candice Pomi, onde ela entrevista Silvia Ruiz, jornalista, e Eduardo Gianetti, filósofo e economista. Candice Pomi é psicóloga, tem especialização em Gerontologia no Einstein e é pesquisadora em longevidade.

O “Tantos Tempos” é muito especial, mais do que isso: é uma pérola! Candice conduz entrevistas com conteúdo de muito valor, leveza e bom humor. Merece ser assinado. Recomendo muito!

O episódio 11 me gerou muitos insights e despertou indícios de respostas para a “minha pergunta da hora”. Por volta do tempo 17min do episódio citado, Gianetti fala a seguinte frase: “O que mantém a gente realmente vivo são desafios”.

Essa frase está em loop infinito na minha cabeça desde que a ouvi no podcast.

Será que estou sentindo falta de desafios? Será que estou vivendo uma vida confortável demais?

A filosofia, a paz interior adotada, o minimalismo, a consciência da desaceleração intencional na velocidade da vida, tudo isso está me levando para um estado de ”observador do mundo” em vez de “fazedor”, que foi como eu vivi as minhas primeiras 60 décadas de vida.

• Será que o meu momento atual passa por esse estado de coisas?

• Será que passa pela redução da ambição de novas conquistas magnânimas na vida?

• Atualmente viver um bom dia, curtir o sol na cara, celebrar a paz de espírito e ser grato por tudo que recebo tem sido a minha fórmula de vida. Será que estou acomodado?

• Será tédio?

Às vezes, penso que estou ficando desinteressante. Ainda não tenho respostas.

No “Tantos Tempos”, Candice sempre inicia com a mesma pergunta para os convidados: “Quando é que a gente fica velho?”

É interessante ver como os convidados lidam com a pergunta. Vejo que eles não têm uma resposta redonda e elaborada. As respostas, de forma geral, são longas, vagas e carregadas de metáforas. A percepção da velhice é muito individual.

Dos episódios que assisti, eu gostei muito da resposta do Marcelo Gleiser, no episódio 32: “Idade é um número e velhice é um estado de espírito. Você pode ser velho com 30 anos e pode ser jovem com 80. É uma questão de perspectiva”.

Marcelo fala sobre a atitude que precisamos ter em relação à passagem do tempo. E diz também: em vez de vermos o tempo como uma perda diária, precisamos ser gratos por tudo que recebemos do universo e celebrar cada dia como um presente da vida.

Penso na minha juventude. A consciência sobre a passagem do tempo parece que só surgiu mais tarde para mim. Quando eu era mais jovem, eu me sentia imortal, porque não havia preocupação com o tempo, afinal eu “tinha todo o tempo do mundo”. Já escrevi sobre isso no meu blog, apesar desta ser uma declaração trivial feita por muita gente.

Pensando em uma possível resposta para a pergunta da Candice – quando é que a gente fica velho? – talvez a gente fique velho quando descobrimos, finalmente, que somos mortais. A finitude muda completamente a perspectiva de vida.

Nos últimos anos eu entrei na melhor fase da minha vida. Tenho escrito sobre isso no meu blog regularmente. Isso me parece estar bem conectado ao conceito de “melhor idade”, que várias vezes substitui termos como “terceira idade” ou “velhice”. A verdade é que realmente vejo a minha fase atual como um período de novas oportunidades, mais sabedoria e consciência. Isso tem moldado a minha percepção sobre “maturidade”.

Esse estado de espírito de descoberta constante, sob uma armadura de leveza genuína, não é só meu. Aqui no Age-Free.World, onde o amigo e “jovem” Fabio Betti bate papo com outros “jovens”, esse “espírito de Benjamim Button” surge reluzente no meio dos episódios do podcast, das conversas postadas no canal do Youtube e nos streamings de áudio, sempre livres e amplas de contexto.

O que mais gosto no Age-Free.World é o seu propósito: promover o debate sobre etarismo, aberto e sem vieses, em um ambiente de liberdade total de opiniões. E isso o Fabio Betti faz brilhantemente, através de conversas deliciosas com seus convidados, de múltiplas visões e experiências, sem pauta ou agenda amarrada, deixando “o barco navegar livre mar adentro conforme o sabor das ondas”. O que mais gosto são as histórias e vivências pessoais, sempre surpreendentes e repletos de insights poderosos.

No episódio 14 do Age-Free.World, rola uma conversa do Fabio com Clarice Niskier. Sou fã da Clarice. Ela fala coisas como “a consciência não tem nada a ver com a idade”, “viver contemplando o aqui e agora” e “manter a curiosidade viva”. Mas o que mais gostei foi uma frase despretensiosa dita por ela, solta no meio de um devaneio: “Na noite querendo ver os vagalumes”.

Me imaginei nesse contexto: vivendo a noite vendo os vagalumes.

Nas minhas inúmeras idas e estadas na Chapada dos Veadeiros, no interior de Goiás, diante do céu mais incrível de todo planeta, eu passo longas noites e madrugadas olhando para as exuberantes estrelas daquele céu majestoso, incrivelmente estrelado, como se fossem reluzentes vagalumes no céu. Ali, a Via Lactea surge imponente, lembrando de nossa insignificância.

No mesmo episódio 14 do Age-Free World, postado no youtube, existe um comentário de Cynara Bastos (@cynarabastos9669), onde ela escreve: “O envelhecer é como permitir que a noite venha”

Fiquei encantado com essa frase porque diz que o envelhecer é uma coisa natural, não pode ser evitado e faz parte do ciclo natural do universo.

Então, finalmente, veio um grande insight, motivador principal por me fazer escrever esse texto. Acho que descobri o que é ficar velho, de forma leve, sutil e encantadora.

Envelhecer faz parte do ciclo natural, como os dias e noites. É um processo, de idas e vindas, como as ondas no mar. Tem momentos que fico velho, em outros estou jovem de novo, e depois volto a ficar velho. Quando fico velho, ganho olhos de super-herói, vejo coisas que como jovem eu não vejo, passo a olhar estrelas e vagalumes, que surgem na minha frente espontaneamente, que me fazem ser mais contemplativo e a velocidade da vida desacelera. Então, em determinado momento, surge o jovem outra vez.

Eu estou nesse ciclo, como num mar de ondas leves, deixando bruma na areia da praia, com um céu azul e estrelado por vagalumes no céu. É isso que estou vivendo agora.

E, talvez, não seja sobre ser mais ou menos interessante, mas sobre um tipo diferente de interesse: o de quem aprecia a luz suave dos vagalumes, noturna e serena, em vez do sol escaldante do meio-dia

Concluo esse artigo com o meu insight poderoso, que incrivelmente iluminou a minha mente e reforçou o meu estado de felicidade absoluta.

Envelhecer é permitir que a noite venha para olhar os vagalumes.

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