Você sabia que, de acordo com dados da OMS (Organização Mundial da Saúde), a perda auditiva afeta cerca de 1,5 bilhão de pessoas no mundo? E a previsão é que seremos 2,5 bilhões de pessoas deficientes auditivas até 2050, ao redor do globo. Destas, 700 milhões necessitarão de acesso a cuidados auditivos e de reabilitação, caso não sejam tomadas medidas que modifiquem este contexto.
Na região das Américas, cerca de 217 milhões de pessoas vivem com perda auditiva, ou seja, 21,52% da população. Estima-se que até 2050 esse número suba para 322 milhões.
Aqui no Brasil, somos mais de 10 milhões de pessoas com algum grau de deficiência auditiva. E, à medida em que o tempo passa e nossa longevidade aumenta, a chance de fazermos parte desse grupo cresce, uma vez que uma maior expectativa de vida traz em si várias perdas, entre elas a da nossa capacidade de ouvir.
A falta de informações precisas e atitudes estigmatizantes em relação à perda auditiva e às doenças do ouvido muitas vezes impedem o acesso à prevenção, identificação precoce e tratamento adequado. Os dados da OMS evidenciam que, globalmente, 80% das pessoas que precisam de cuidados auditivos não os recebem. O custo estimado relacionado com a perda auditiva sem tratamento é de um trilhão de dólares.
E aqui surge a pergunta que não quer calar: independente da sua idade, como você tem cuidado da sua audição?
A maior parte das pessoas não pensa sobre isso, demora a perceber ou nem percebe que já não escuta como antes. Como se trata de uma deficiência “invisível”, os sinais são mais facilmente percebidos pelas outras pessoas. Você começa a aumentar o volume dos sons à sua volta – da TV, do rádio, do áudio do computador, passa a falar cada vez mais alto, a não mais ouvir os sons agudos, a ter dificuldade de escutar o que está sendo dito, de acompanhar e entender conversas em grupo.
Sim, a perda auditiva não tratada pode ter um impacto significativo no convívio social, afetando nossa comunicação, nosso bem-estar emocional e nossa capacidade cognitiva. Segundo um estudo conduzido por pesquisadores da Universidade Johns Hopkins, pessoas com perda auditiva moderada correm quase duas vezes mais risco de ter demência do que aquelas sem perda auditiva. Para quem tem perda auditiva severa, o risco é quase cinco vezes maior. Um outro estudo da “The Lancet”, indica que aproximadamente 9% dos casos de demência podem ser atribuídos à perda auditiva.
Tomar consciência de que é preciso prevenir, buscar tratamento e reabilitar nossa perda auditiva é fundamental para assegurar ou melhorar a qualidade da nossa vida hoje e amanhã. Para nos lembrar disso, em 2015 a OMS estabeleceu 3 de março como o Dia Mundial da Audição, uma campanha anual para conscientizar sobre a prevenção da surdez e da perda auditiva, assim como promover a ideia de que os cuidados com os ouvidos e com a audição fazem parte da saúde e do bem-estar geral, bem como chamar a atenção sobre a importância de reduzir o estigma associado aos problemas auditivos.
Em 2024, a fonoaudióloga Katya Freire, fundadora e CEO da Audicare, membro do World Hearing Forum e co-chair do Make Listening Safe – WHO/OMS, idealizou e realizou, em parceria com a Galeria d.Propósito Design, a EART Exhibition. Na primeira edição, artistas diversos, com e sem deficiência auditiva, foram convidados a transformar quaisquer resíduos audiológicos, como moldes de silicone, acrílico e tubos de plástico, em obras de arte. A exposição desses trabalhos foi uma maneira inovadora de conscientização sobre a importância da prevenção, diagnóstico e reabilitação auditiva.
A EART Exhibition nasceu da necessidade de unir diferentes áreas do conhecimento para levar a discussão sobre a saúde auditiva a um público mais amplo. A edição de 2025 foi aberta no último dia 28 de março com uma roda de conversa entre Gisele Munhões, da WS Audiology, Katya Freire, da Audicare, Fabia Toqueti, da d.Propósito, e o artista Vinícius Loschiavo, que eu tive o privilégio de mediar.
Discutimos sobre o desafio de mudar nosso modo de pensar em relação aos cuidados auditivos e o quanto é necessário que pessoas de todas as gerações estejam atentas e combatam os estigmas para garantir ouvidos e audição saudáveis para si e para os outros.
Conversamos sobre educação, acesso, prevenção, inovação tecnológica, impacto positivo e a relação entre arte, design e cuidados auditivos, com um olhar essencial para a preservação da audição e da inclusão social.
Foi um encontro único entre arte, sustentabilidade e conscientização auditiva na Galeria d.Propósito que, desde 2020, gera e incentiva o design com propósito ambiental, humano e social, transformando resíduos em novas histórias. Com a EART Exhibition, esse conceito foi expandido para o universo da audiologia, trazendo uma reflexão sobre o impacto dos descartes e a importância da inclusão e do design regenerativo.
A exposição conta com obras do artista Vinícius Loschiavo, que é deficiente auditivo, trabalha com upcycling e reforça a mensagem de conscientização e inclusão. Ele utiliza sucata eletrônica, como teclados de computador e fones de ouvido, transformando resíduos tecnológicos em peças e esculturas que nos fazem refletir sobre o consumo e o descarte responsável.
Se você acha que deficiência auditiva é coisa de gente “velha”, saiba que, segundo a OMS, mais de um bilhão de jovens ao redor do mundo enfrentam o risco de perda auditiva permanente devido à exposição prolongada a sons altos em atividades recreativas, como baladas e shows, e o uso contínuo de fones de ouvido em smartphones, tablets, computadores e jogos de videogame.
A adoção de medidas preventivas hoje pode garantir uma boa saúde auditiva por toda a vida. E, ao preservar sua audição, você também preservará sua capacidade cognitiva e continuará a fazer parte do mundo à sua volta.
Agora que você já tem consciência disso, está na hora de agendar uma audiometria, cuidar do seu ouvido e, se necessário for, vencer seu próprio preconceito e começar a usar um aparelho auditivo. Afinal de contas, de que serve a longevidade sem inclusão e qualidade de vida? A arte de viver requer sustentabilidade!