Por que a inovação precisa urgentemente de diversidade etária

“Inovação é coisa de jovem.”
Quantas vezes você já ouviu essa frase — dita ou implícita — nos corredores, nas baias, cafés ou outros momentos “sem julgamento”?

A cultura da inovação costuma celebrar a juventude como sinônimo de criatividade, agilidade e disrupção. Mas essa ideia, além de simplista, ignora o potencial transformador da experiência acumulada, da maturidade emocional e da visão estratégica que só o tempo de vida oferece.

Chegou a hora de expor e desconstruir o etarismo presente no que tange inovação — e abrir caminho para soluções mais diversas, potentes e sustentáveis.


O que são SeniorTechs ou AgeTechs?

O termo “Seniortech” (ou o sinônimo internacionalmente mais comum, “AgeTech”) refere-se a startups e empresas que utilizam a tecnologia para criar produtos, serviços e soluções voltadas especificamente para as necessidades, desafios e desejos da população idosa (tipicamente definida como 60+ ou 50+) e seus cuidadores.2 O conceito central está ligado à funcionalidade e facilidade que a tecnologia pode proporcionar para melhorar a qualidade de vida, a autonomia e a independência das pessoas à medida que envelhecem ou lidam com comorbidades associadas à idade.1

É fundamental dissociar a Seniortech da ideia ultrapassada de que idosos são avessos à tecnologia. Pelo contrário, dados recentes mostram uma adesão crescente desse público ao mundo digital.4 A questão central não é a capacidade de uso, mas a adaptação da tecnologia para que ela seja intuitiva, acessível e relevante para as particularidades dessa fase da vida, visando promover dignidade e bem-estar.1

Dentro do amplo universo das startups de tecnologia, as Seniortechs frequentemente se intersectam com outros setores, mas mantêm seu foco distintivo no público sênior:

  • HealthTechs (Tecnologia em Saúde): Muitas Seniortechs são também HealthTechs, pois desenvolvem soluções para saúde preventiva, monitoramento remoto, gestão de doenças crônicas, saúde cognitiva e bem-estar físico e mental.5 A diferença reside no foco etário: enquanto HealthTechs podem atender a todas as idades, Seniortechs com viés de saúde priorizam as condições e necessidades prevalentes no envelhecimento.
  • CareTechs (Tecnologia de Cuidados): Há uma sobreposição significativa, já que muitas Seniortechs oferecem ferramentas para cuidadores (familiares ou profissionais), plataformas de coordenação de cuidados, tecnologias de monitoramento para segurança e soluções para gestão de cuidados domiciliares ou em instituições de longa permanência (ILPIs).5 O foco da Seniortech abrange tanto o idoso quanto seu ecossistema de cuidado.
  • EdTechs (Tecnologia Educacional): Seniortechs podem atuar como EdTechs ao oferecerem plataformas de aprendizado contínuo (lifelong learning), inclusão digital e desenvolvimento de novas habilidades adaptadas ao público 60+.5
  • FinTechs (Tecnologia Financeira): Soluções financeiras desenhadas para as necessidades específicas dos idosos (planejamento de aposentadoria, gestão patrimonial simplificada, prevenção de fraudes, acesso a crédito adaptado) também se enquadram como Seniortechs.7
  • Outras Áreas: O conceito se estende a soluções de mobilidade, habitação adaptada (Smart Homes), conexão social, lazer, trabalho e consumo.3

Portanto, a Seniortech não é definida pelo tipo de tecnologia, mas pelo público-alvo e pelo propósito de promover um envelhecimento com mais qualidade, independência e dignidade. Ela representa uma aplicação transversal de diversas tecnologias (IA, IoT, wearables, robótica, plataformas digitais) para um segmento demográfico específico e crescente. A complexidade e a heterogeneidade do envelhecimento exigem essa abordagem multifacetada, que vai além das categorias tradicionais de tecnologia.


O etarismo silencioso nas startups

A verdade é que a inovação tecnológica ainda carrega um viés geracional profundo. A figura idealizada do fundador de sucesso é, quase sempre, jovem, branco, homem, com formação em engenharia ou negócios — um recorte que exclui grande parte da população, especialmente pessoas 50+.

Startups lideradas por fundadores com mais de 50 anos ainda enfrentam:

  • Olhares desconfiados de investidores (“será que ele aguenta o ritmo?”)
  • Pressão interna (é preciso estimular a autoconfiança para empreender)
  • Preconceito implícito nas próprias ferramentas de seleção (algoritmos, linguagem de editais, mentorias voltadas a “jovens talentos”)

E isso acontece apesar dos dados.


Qual é o perfil real de fundadores de startup?

🔸 Um estudo da MIT Sloan e da Northwestern University revelou que os fundadores de startups mais bem-sucedidas têm, em média, 45 anos na hora da criação. E que as empresas fundadas por pessoas com 50+ têm mais chance de sobrevivência e crescimento escalável do que aquelas criadas por jovens de 20 a 30 anos.

🔸 Outro dado da Kauffman Foundation mostra que as startups fundadas por pessoas entre 55 e 64 anos têm taxa de sucesso mais alta do que qualquer outro grupo etário.

Ou seja: idade não é barreira para inovar — é potência.
Mas por que esse dado ainda não virou narrativa dominante?


O que os mapeamentos mostram sobre o ecossistema de longevidade?

Estudos recentes também ajudam a consolidar esse cenário. O mapeamento realizado pela Ativen e InovaHC em 2023 revelou um ecossistema emergente de seniortechs no Brasil, com dezenas de startups fundadas por pessoas 50+ e voltadas à longevidade ativa.

Globalmente, a plataforma The Gerontechnologist, referência em inovação e longevidade, publica periodicamente listas com as 100 principais startups de tecnologia para o envelhecimento, provando que o setor é vibrante, multigeracional e crescente.

Além disso, hubs internacionais como o AgeTech Collaborative (EUA), o Agetech Japan, e iniciativas como o Global Longevity Economy Outlook (AARP) reforçam que há um movimento global de investimento e desenvolvimento tecnológico voltado a uma população que envelhece com expectativa de autonomia e protagonismo.

Estudos recentes também ajudam a consolidar esse cenário. O mapeamento realizado pela Ativen e InovaHC em 2023 revelou um ecossistema emergente de seniortechs no Brasil, com dezenas de startups fundadas por pessoas 50+ e voltadas à longevidade ativa. Globalmente, a plataforma The Gerontechnologist, referência em inovação e longevidade, publica periodicamente listas com as 100 principais startups de tecnologia para o envelhecimento, provando que o setor é vibrante, multigeracional e crescente.


Mas por que esse dado ainda não virou narrativa dominante?


Inovação sem diversidade etária é inovação incompleta

A ausência de pessoas maduras no ecossistema de inovação afeta diretamente a qualidade e a relevância das soluções criadas.

Quando todos pensam parecido (ou têm idades, repertórios e dores semelhantes), tendemos a construir soluções para nós mesmos — e não para o todo.

E o todo está envelhecendo:

  • Em 2030, o Brasil terá mais pessoas acima de 60 anos do que crianças de até 14.
  • Globalmente, o público 60+ movimenta trilhões de dólares em consumo (a chamada silver economy).
  • Só no Brasil, a economia prateada já representa mais de R$ 1,6 trilhão/ano.

Estamos preparados para criar soluções para esse público sem ouvi-lo e sem incluí-lo nas mesas de decisão?


Caminhos para fomentar ecossistemas intergeracionais de inovação 💡

Diversidade etária não é uma pauta de inclusão opcional, mas uma estratégia de inteligência e sustentabilidade de mercado. Aqui vão algumas ideias para começar:

Aceleradoras e fundos de investimento: criem programas específicos para empreendedores 50+, com mentorias adequadas e linguagem acessível.

Startups em early stage: promovam convivência intencional entre gerações em conselhos, squads e advisory boards.

Empresas: estimulem intraempreendedorismo com colaboradores sêniores, aproveitando talentos que conhecem profundamente o negócio.

Hubs de inovação: tragam pessoas maduras para eventos, painéis e programas de formação — e não apenas como “inspiradores” ou “palestrantes pontuais”, mas como protagonistas.

Poder público e editais de fomento: estabeleçam políticas de incentivo à inovação etária e fundos dedicados à longevidade.


O que queremos ver florescer

🔎 Inovação com diversidade etária é mais real, mais plural, mais humana.
Não se trata de substituir juventude por maturidade — mas de reunir gerações em torno de soluções mais completas, empáticas e transformadoras.

Na Age-Free.World, acreditamos que a idade não limita, amplia.
E a inovação que vai mudar o mundo será intergeracional ou será incompleta.


E você, já incluiu a diversidade etária no seu projeto de inovação?

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💰 No próximo artigo pretendo falar um pouco mais sobre investimentos em startups AgeTechs/SeniorTechs.


Referências

  • MIT Sloan Management Review & Kellogg School of Management: “Age and High-Growth Entrepreneurship” (2018)
  • Kauffman Foundation: “The Coming Entrepreneurship Boom” (2009)
  • PEGN/Estadão: “Economia prateada movimenta R$ 1,6 trilhão no Brasil” (2023)
  • IBGE: Projeção da população brasileira, 2030-2070
  • Relatório AgeTech LATAM | Ativen & InovaHC (2023)
  • Dados internos de pesquisa ChatGPT 2024-2025 com base em fontes oficiais e setorais

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