É bastante clichê, mas a cada nova geração, a história se repete. Os mais velhos olham para os mais novos com desconfiança, questionando seus valores, hábitos e formas de se expressar. Eu vi isso acontecer nos filmes e na minha vida. Eu que sou uma mulher de 39 anos, da tal Geração Y. Recebi questionamentos semelhantes aos de outras mulheres da minha faixa etária:  sobre minha expectativa de um casamento com equidade de gênero e minhas “experiências antropológicas” com meus próprios filhos meninos (dando-lhes, desde cedo, brinquedos de casinha, por exemplo). Com a Geração Z, isso acontece mais uma vez e talvez a gente possa se provocar a não repetir a mesma história de sempre.

“Não querem trabalhar”, “só sabem fazer dancinha no TikTok”, “são muito sensíveis, qualquer coisa vira um problema”. Você certamente já ouviu (e repetiu!) alguns desses estereótipos sobre pessoas nascidas entre 1995 e 2010, aqueles que têm hoje entre 15 e 30 anos.

Todos nós (sim, eu também caio dessa armadilha cômoda às vezes) já estivemos do outro lado. Nós da Geração Y, os millenials, que agora ocupamos posições de liderança, também fomos tachados de “rebeldes”, “preguiçosos” e “sem foco” quando entramos no mercado de trabalho. Antes da gente, a Geração X ouviu que “não tinha espírito de equipe” e que “não respeitava hierarquias”. O ciclo de desconfiança se repete como se a juventude estivesse sempre errada e apenas os mais velhos soubessem como o mundo funciona.

Bora tentar compreender melhor os processos que influenciam essa geração que está chegando pra trabalhar com a gente?

Esse é o pessoal que cresce num mundo em crise climática, com conflitos internacionais crescentes, mesmo com boa educação não tem a garantia de acesso a emprego como gerações anteriores…só por isso,  já dá pra entender mais sua visão sobre aproveitar a vida hoje, ter mais foco com realizações de curto prazo.

E de fato existem desafios específicos enfrentados pelos mais jovens:

  • A taxa de desemprego entre 18 a 24 anos no Brasil é mais que o dobro da média nacional, diz o IBGE. Ou seja, temos uma real dificuldade de entrada no mercado, não é uma questão de falta de interesse;
  • 60% dos jovens brasileiros sentem ansiedade ou depressão frequentemente, conforme a Unicef. Essas questões são sintomas de um mundo que cobra cada vez mais e oferece poucas garantias. E também de uma crise de saúde ligada a nossa relação com tecnologias (problema que se agravou justamente para quem era adolescente por volta da 2010 – fica aqui a indicação de leitura do livro Geração Ansiosa, do Jonathan Haidt);
  • O tema de saúde mental é tão crítico para esse público que a Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta que o suicídio é a terceira maior causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos, atrás apenas de homicídios e acidentes de trânsito;

Compreender esse contexto social é uma parte importante do processo de quebrar estereótipos sobre um grupo. Outra parte, que preciso trazer para cumprir meu papel como consultora de diversidade, tem a ver com um conceito chamado INTERSECCIONALIDADE.

Ele diz respeito às diferentes dimensões que compõem a identidade de uma pessoa: raça, gênero, classe, religião, formação.

Um exemplo interessante sobre a impossibilidade de generalizar um grupo com base em apenas parte de sua identidade é uma tendência que já aponta uma polarização política oposta entre homens e mulheres da geração Z. As mulheres estão cada vez mais progressistas e os homens mais jovens puxam os votos para partidos da extrema direita.

Outro dado interessante vem da Espanha: O Centro de Investigações Sociológicas (CIS), um instituto público espanhol dedicado à pesquisa, reconhecido pelas intenções de voto em período eleitoral, trouxe no ano passado o dado de que 66% das mulheres jovens se identificam como pró equidade de gênero, em comparação com 35,1% dos homens na mesma faixa etária.

Fica então a dica que não traz nenhuma novidade: nada de colocar todas as pessoas de uma geração no mesmo balaio. Seja para idealizações positivas como “ai, essa nova geração é tão mente aberta, eles já vêm com outro chip” ou para generalizar críticas na linha do “só se importam consigo mesmo”.

Quando a gente consegue enxergar para além das expectativas prévias, coisas bem interessantes podem surgir. Um exemplo é o mercado de influenciadores que foi impulsionado por essa geração. Ele era visto como “brincadeira de adolescente” e hoje movimenta bilhões e influencia decisões de consumo em todas as idades. Outro exemplo está em nossos ambientes de trabalho. As gerações anteriores certamente têm muito a aprender com as demandas reforçadas pelos mais novos: mais flexibilidade nos modelos de trabalho, transparência nas relações, tolerância zero com o assédio. Acho que a gente já achava isso bom, não?

Hoje estamos felizmente discutindo o tal mercado prateado, que nos sinaliza a importância de seguir valorizando os mais velhos como consumidores. Temos conquistado leis importantes de combate ao etarismo que ainda expulsa compulsoriamente profissionais mais velhos do mercado. Que a gente possa trazer aprendizados dessas conquistas para romper estereótipos com a idade em todas as faixa etárias.

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