“Nascer é uma possibilidade
Viver é um risco
Envelhecer é um privilégio!”
Mário Quintana
Apesar de ser um ‘privilégio envelhecer’, no Brasil uma pessoa que passa dos 40 anos de idade é considerada “coroa”.Passar dos 50 anos é velha e parece que não tem mais direito a recomeçar uma nova carreira, namorar ou mesmo viver!
Segundo dados do IBGE, brasileiros com 60 anos ou mais superam 32 milhões de pessoas.
A população do nosso país está envelhecendo, porém, ainda não sabemos lidar com essa realidade e debater sobre o tema do envelhecimento ainda é um forte tabu na sociedade.
A eterna juventude exigida no Brasil é algo totalmente insano, principalmente para as mulheres que sofrem essa cobrança de maneira mais explícita!
Os homens também sofrem com o preconceito, porém, a “velhofobia” é mais forte e perceptível em relação às mulheres.
Para as mulheres a cobrança do corpo perfeito e da eterna juventude é constante, contragedora e cruel!
Recentemente em uma entrevista, uma famosa atriz brasileira que estava prestes a completar 50 anos reclamava da imensa cobrança por estar envelhecendo, disse que só faltava receber os pêsames!
Por que a mulher brasileira é tão cobrada em relação à idade?
Por que a mulher madura tem dificuldade em se manter ou ingressar no mercado de trabalho?
São perguntas que exigem um olhar mais atento para a nossa sociedade que valoriza excessivamente a juventude.
Muitas mulheres enfrentam o preconceito por causa da idade ao buscar uma recolocação ou até mesmo para se manter no mercado de trabalho.
Esse fenômeno se chama Etarismo, que é a discriminação, intolerância e preconceito contra idade, principalmente das pessoas mais velhas.
As empresas desperdiçam conhecimento, experiência e talento somente por causa do fator idade.
O culto à beleza e à juventude é uma realidade devastadora para as mulheres brasileiras, pois, cada vez mais os padrões de beleza estão inalcançáveis, causando uma grande angústia nas mulheres maduras.
Toda essa exigência de se manter sempre com uma aparência jovem também causa um forte impacto na relação das mulheres com o mercado de trabalho.
Mulheres são as que mais sofrem com o Etarismo
Segundo a pesquisa do Instituto Locomotiva, o etarismo é ainda mais evidente no público feminino. Um total de 78% dos entrevistados notam menos oportunidades para mulheres do que homens no mercado de trabalho e, para aquelas que são mães, o percentual é ainda maior: 88%.
De acordo com uma pesquisa divulgada em 2022, pela EY Brasil, que ouviu 191 empresas de 13 setores, 32% das mulheres com 50 anos ou mais estavam desempregadas há mais de 1 ano, em comparação a 20% dos homens.
É fundamental mudar essa mentalidade que somente os jovens são mais bonitos, competentes e aptos para o trabalho.
Combater o etarismo na sociedade e no mercado de trabalho não é das tarefas mais fáceis; de maneira velada muitas empresas evitam até mesmo conferir com mais atenção o currículo daqueles que já passaram dos 40/50 anos de idade.
Com o forte preconceito das empresas em relação ao envelhecimento atingindo principalmente as trabalhadoras, muitas mulheres buscam caminhos alternativos para se manterem relevantes e atuantes profissionalmente; o empreendedorismo muitas vezes é o melhor caminho para combater o etarismo.
Conforme o Sebrae, as mulheres lideram 40,5% das empresas do país. Deste contingente, a maioria empreende sozinha.
A minha história pessoal se encaixa nessa busca por novos caminhos; no auge da minha carreira como advogada e professora universitária, optei por fazer uma longa pausa na minha vida profissional para me dedicar aos meus quatro filhos, sendo que um filho é autista.
Embora tenha sido uma decisão consciente, precisei abrir mão de muitas oportunidades na minha carreira, mas a vida é feita de escolhas e escolhi naquele momento me dedicar integralmente à minha família.
Por volta dos 50 anos já com os meus filhos crescidos, procurei me reinventar como profissional, fiz pós-graduação em Ciência Política, voltei a participar de seminários, comecei a produzir os meus artigos para sites de notícias e a “virada de chave” foi a minha presença constante no LinkedIn, a maior rede social profissional do mundo, onde lancei com sucesso o meu projeto e a minha newsletter “Falando de Política”.
A reinvenção profissional em qualquer idade é um processo contínuo. Sigo buscando novos desafios e aprendendo ao longo da minha jornada.
A Importância das Políticas Públicas no Combate ao Etarismo
De acordo com o Censo Demográfico 2022, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população brasileira com 60 anos ou mais era de 32.113.490 pessoas, o que corresponde a 15,8% da população total.
A proporção de idosos no Brasil quase dobrou entre 2000 e 2023, passando de 8,7% para 15,6%.
Em 2070, a projeção é que cerca de 37,8% da população brasileira seja idosa, o que corresponde a 75,3 milhões de pessoas.
O envelhecimento da população brasileira é causado pelo aumento da expectativa de vida e pela queda da fecundidade.
Os dados do Censo 2022 do IBGE são fundamentais para a formulação de políticas públicas no Brasil.
O etarismo, a participação das mulheres no mercado de trabalho, o envelhecimento da população, o crescimento do número de pessoas aposentadas, entre outros, são temas que retratam a nova realidade brasileira e que devem ser debatidos constantemente pela sociedade.
O desafio no futuro próximo para o governo brasileiro será manter o equilíbrio nas contas e serviços públicos para atender a demanda de aposentados e lidar com o envelhecimento da população, pois, tudo isso gera um grande impacto na previdência social e no sistema único de saúde.
Os dados do IBGE são um chamado à ação para que a sociedade como um todo trabalhe para eliminar o etarismo, as desigualdades de gênero e construir um futuro mais justo e com mais oportunidades de trabalho para as pessoas 40/50 +.
Precisamos de políticas públicas eficazes para combater o preconceito da idade, bem como para proteger e garantir os direitos daqueles que já passaram da juventude.
Precisamos que as empresas tenham mecanismos, programas de capacitação e políticas que estimulem a inclusão das pessoas 40/50 + no mercado de trabalho.
Só o fato de estarmos vivos e enfrentado uma pandemia que ceifou a vida de milhares de brasileiros, deveria ser o suficiente para agradecermos por nossas vidas e pelo privilégio de envelhecermos com resiliência e gratidão.
Mas não é isso que ocorre, falta respeito e empatia por aqueles que estão no auge de sua vida adulta e que ainda têm muita a contribuir com sua experiência e capacidade para o desenvolvimento da sociedade e do mercado de trabalho.
Devemos ter um olhar mais apurado e despido de preconceito, e entender que cada idade, cada fase da vida, tem sua beleza, força, sabedoria e valor.
Somos todos sobreviventes em um mundo assolado por conflitos, tragédias ambientais, fome e todo tipo de violência; jovens ou não tão jovens, somos todos seres humanos batalhando por nossa felicidade e realização profissional!
Seja Gentil, talvez amanhã
Seja você o “mais velho” da turma!