“O futuro era muito melhor antigamente.”
Luiz Fernando Verissimo
A recente reportagem do New York Times trouxe à tona um fenômeno intrigante: uma pesquisa revela que a Geração Z (nascidos entre 1997 e 2012) sente uma nostalgia profunda por uma era que nunca viveu.
Este sentimento, paradoxal à primeira vista, levanta uma questão fundamental: como é possível ter saudade de um tempo do qual não se fez parte?
Minha experiência pessoal me oferece um laboratório único dessa dinâmica geracional. Sou da Geração X, testemunhei o mundo analógico se desfazer para dar lugar ao digital.
Em minha casa, circulam visões de mundo distintas: sou mãe de quatro filhos, dois dos meus filhos são Millennials, que viram o mundo se conectar pela primeira vez; os outros dois são da Geração Z, nativos digitais que herdaram um planeta já totalmente online.
Essa convivência é um diálogo constante e por vezes um choque entre memórias reais e imaginadas!
É incontestável que os anos 80′ e 90′ foram décadas icônicas, repletas de uma sensação palpável de liberdade e otimismo.
A cultura pop fervilhava, a geopolítica se reconfigurava e a ideia de futuro parecia brilhante e promissora.
No entanto, a virada do milênio operou uma transformação sísmica. O acelerado avanço tecnológico, o surgimento das redes sociais e a redefinição dos relacionamentos interpessoais criaram um novo paradigma.
É justamente dentro desta nova realidade, hiperconectada e sobrecarregada de estímulos, que brota um sentimento inusitado entre os mais jovens: a “nostalgia histórica”, ou anemoia termo cunhado por psicólogos para definir esse desejo irresistível por um passado que nunca se experimentou diretamente, mas que é meticulosamente idealizado através de filmes, múscias, moda e estéticas “vintage”.
A pesquisa da Harris Poll (2023), repercutida pelo NYT, quantifica esse anseio: 60% dos adultos da Geração Z admitem que gostariam de voltar a um tempo “antes de todos estarem constantemente conectados”, mesmo que esse período seja anterior ao seu nascimento. O paradoxo é apenas aparente. Ele esconde uma crítica profunda e um profundo desejo humano.
Os especialistas apontam que a geração Z não conheceu outro mundo senão um marcado pela instabilidade: cresceram sob o espectro de crises económicas repetidas, a emergência climática, polarizações políticas tóxicas e, de forma mais traumática, uma pandemia global que confinou interações humanas a uma tela.
A sobrecarga digital, a pressão pela imagem perfeita, a cultura do cancelamento, a ansiedade de comparar sua vida real com os highlights alheios, tornou o mundo online um ambiente muitas vezes exaustivo.
Esta “nostalgia histórica” não é, portanto, uma mera fuga romântica ou um modismo passageiro. É um sintoma. É um pedido de socorro por conexões mais autênticas e profundas. É a sensação de que, em algum lugar no passado, as interações eram mais verdadeiras porque eram necessariamente presenciais; a vida era mais lenta porque não havia notificações a disputar nossa atenção a cada segundo; e a cultura era mais tangível, vivida através de fitas cassete, discos de vinil e fotografias que não podiam ser deletadas com um toque.
Em última análise, a Geração Z não sente saudade dos anos 80 ou 90 em si, eles sentem saudade do que esses períodos representam em seu imaginário: um refúgio de simplicidade, autenticidade e presença.
Seu anseio por um “mundo analógico” é, na verdade, um profundo desejo por um futuro diferente, onde a tecnologia nos sirva, e não nos domine; onde as conexões digitais complementem, e não substituam, o calor do contato humano!
Sua nostalgia é, paradoxalmente, a mais moderna forma de esperança.
E você, qual é a sua “nostalgia histórica “, qual a saudade de um tempo vivido ou não vivido?