Como consultor em acessibilidade e pessoa com deficiência auditiva, vejo na longevidade e acessibilidade os desafios que enfrento diariamente: Não basta existir, é preciso viver com plenitude. A medicina fez um excelente trabalho de expectativa de vida, mas quando vamos falar de qualidade de vida e, especialmente, de um conceito que venho falando da funcionalidade de vida? Quando falamos em envelhecimento populacional, estamos diante da mesma questão que enfrento em empresas – como transformar números em qualidade de vida real?
Os ciclos da vida através do meu olhar
Assim como precisei reinventar minha forma de trabalhar (pedindo materiais prévios para reuniões, limitando participantes para melhor leitura labial), nossa sociedade precisa repensar os tradicionais três ciclos da vida:
Primeira idade (0-20 anos): A era dos gastos para desenvolvimento, com a constante especialização (mestrado, doutorado, MBA). Será que essa idade será eterna? Hoje vejo jovens de 30+ ainda nessa fase, buscando especialização – assim como precisei me adaptar continuamente no mercado.
Segunda idade (20-70 anos): Fase da economia. Nela estamos na vida ativa, produzindo, mas será? A produtividade não é linear – quem tira um sabático está em qual fase? Foi para a terceira idade?
Terceira idade (70+): Essa é a era do gasto, a pessoa parou de trabalhar e está gastando com a saúde, cuidado, será? Conheço idosos que, como eu com minha deficiência, provam que limitações não definem capacidade – são conselheiros, influenciadores digitais e mentores.
Dado crucial: No Rio, vivemos até 73 anos (expectativa de vida), mas só 62 com qualidade (IBGE). E nem temos dado da funcionalidade, que é como somos úteis e conseguimos nos cuidar, da sociedade.
Tecnologia que transforma: ontem para mim, hoje para todos
As ferramentas que uso diariamente – desde apps de transcrição até salas virtuais acessíveis – é a mesma tecnologia que pode garantir independência na terceira idade:
IA aplicada: Meus softwares de legendagem em tempo real são primos tecnológicos dos assistentes vocais que ajudam idosos.
Design universal: Minha necessidade de iluminação adequada para leitura labial é similar à que um idoso precisa para enxergar melhor. E estou desenvolvendo para termos uma jornada universal da acessibilidade.
Mercado em crescimento
Setor da longevidade: US$ 63 bi até 2035
População 60+: 2,1 bi em 2050
O que minha surdez me ensina sobre envelhecimento
Prevenção é melhor que adaptação. Assim como lutei por acessibilidade desde minha primeira entrevista, ter as ferramentas corretas é questão de cuidado: físico, mental, psicológico e de segurança. Devemos preparar o envelhecimento desde cedo – saber o que você necessita são cuidados para envelhecer com qualidade e segurança, que dá funcionalidade.
Tecnologia é libertadora: Minhas ferramentas de trabalho são tão essenciais quanto um andador ou app de medicamentos pode ser para outros.
O ambiente define a capacidade: Minha performance varia conforme a acessibilidade – assim como a de um idoso em espaços adaptados, lugares com mais acessibilidade provém mais eficiência e experiência.
Conclusão: Um convite para longevidade inclusiva
Minha jornada mostra que quando removemos barreiras, revelamos potencial. Para a longevidade, o caminho é similar:
- Quebrar estereótipos (tanto sobre deficiência quanto idade)
- Investir em adaptação contínua (como fiz na carreira)
- Criar ambientes que incluam todas as fases da vida
Pergunta que deixo: Se empresas se adaptam para incluir minha deficiência, por que não podem se preparar para acolher o envelhecimento ativo?