Meu filho Matheus é autista.
Ele é um jovem de 20 anos que transborda alegria, ama futebol, adora escutar as músicas de Caetano Veloso, Tim Maia, Seu Jorge e Ana Carolina, e conquista corações com seu carinho genuíno. Sua presença é um lembrete constante de que a felicidade não se define por padrões, mas pela forma como abraçamos a vida.
Ser mãe de alguém no espectro autista não é sobre romantizar a jornada como uma “bênção ” ou ostentar um título de “guerreira”. É sobre resistir todos os dias. É sobre enfrentar silêncios que doem, burocracias que esgotam e preconceitos que cortam como faca.
É, acima de tudo, sobre um amor que se reinventa a cada desafio, um amor que celebra não só as grandes conquistas, mas os mínimos detalhes: um sorriso que brota sem aviso, um progresso que parece pequeno ao mundo, mas é imenso para nós, um abraço que chega quando menos se espera.
Meu filho, mesmo com acesso aos inúmeros tratamentos, é uma pessoa com deficiência no espectro autista, classificado no nível 3 de suporte; o que demanda supervisão integral e ininterrupta devido às suas necessidades complexas de cuidados.
Assim como ocorre com muitos autistas, sua inserção no mercado de trabalho esbarra em barreiras intransponíveis, já que ele enfrenta limitações cognitivas e físicas que dificultam atividades cotidianas e a autonomia necessária para ambientes profissionais.
A realidade das pessoas autistas e de suas famílias é marcada por desigualdades profundas.
Para uma minoria que tem acesso a tratamentos especializados, cuidadores qualificados e instituições de ensino adaptadas, os desafios podem ser mitigados. Porém, para a grande maioria das famílias brasileiras, especialmente aquelas em situação de vulnerabilidade social, a ausência de políticas públicas efetivas se traduz em abandono: faltam suporte terapêutico, auxílio financeiro, inclusão educacional e orientação para lidar com as demandas diárias do autismo.
Essa lacuna não apenas reforça ciclos de exclusão, mas também expõe a urgência de uma rede de apoio que reconheça as múltiplas dimensões do cuidado às pessoas com deficiência.
A Lei Federal 12.764/2012, popularmente conhecida como “Lei Berenice Piana”, em homenagem à ativista e mãe de um jovem autista que impulsionou a proposta; constitui um marco histórico na garantia de direitos das pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) no Brasil.
Ao reconhecer o autismo como condição de deficiência, a legislação institui diretrizes para políticas públicas transversais, como acesso à saúde, educação especializada e proteção social.
Entretanto, após mais de uma década de vigência, sua efetiva aplicação enfrenta obstáculos estruturais. A escassez de serviços especializados, a falta de capacitação de profissionais em setores-chave como educação e saúde, além da insuficiência de fiscalização, limitam o alcance prático da lei como um instrumento efetivo de inclusão e melhoria da qualidade de vida das pessoas com TEA.
Hoje, mais do que celebrar, levantamos vozes para exigir acessibilidade, inclusão real e políticas públicas que não abandonem as famílias de autistas à própria sorte.
Muitos autistas e seus cuidadores enfrentam uma realidade desumana: terapias caríssimas, diagnósticos tardios, escolas despreparadas. Isso precisa mudar.
Um dos maiores desafios das famílias dos Autistas é lutar contra o preconceito da sociedade em que vivemos.
Hoje é um Dia de luta para reivindicar melhores condições de vida e tratamentos adequados para os autistas, principalmente para aqueles que não têm condições de arcar com os elevados custos de terapias e atendimento médico.
No dia Mundial da Conscientização do autismo, eu desejo um Brasil com mais políticas públicas para as famílias dos autistas, mais respeito, inclusão social e, acima de tudo, empatia por todos aqueles que estão no espectro autista.
Como diz meu marido, companheiro nessa caminhada e pai extraordinário: “Ter um filho autista é uma lição de vida, nos tornamos mais tolerantes e nos livramos do preconceito. Cada sorriso e evolução do nosso filho, por menor que seja ,é uma vitória e uma esperança de vida.”
Neste dia, reforço meu compromisso: lutar por um Brasil onde autistas não precisem “se adaptar”, mas sejam acolhidos em sua singularidade.
Onde a empatia não seja discurso, mas prática.
Onde o respeito não dependa de laudos, mas de humanidade.
Sigo na trincheira, honrando cada família que persiste, cada profissional que se dedica, cada voz que se levanta pelo bem-estar dos autistas.
Porque o autismo não é um mundo à parte, ele é parte do mundo. E todos temos o dever de tornar o mundo melhor.
Sigo na luta pela vida digna, pelos direitos e pelo futuro de todos os Autistas.
Matheus, você é minha inspiração diária!
#Respeito #Empatia