Perguntada sobre o que melhora e o que piora com o passar do tempo, eis a resposta da antropóloga, escritora e autora do livro “A Bela Velhice “, Mirian Goldenberg:
“O que melhora é a liberdade de escolhas. É a certeza de que você não tem mais tempo para desperdiçar, é o foco nos propósitos e projetos e no que é realmente significativo na vida, se cercar de pessoas que realmente ama. Eu não acho que algo piora com a idade se você tem saúde, dinheiro e afeto. Nada piora, só melhora.”
Por que as celebridades parecem não envelhecer?
A reportagem recente que revela os segredos de celebridades como Angélica, Eliana e Xuxa para “não envelhecer” é sintomática de nosso tempo. Entre depoimentos sobre rotinas rigorosas de bem-estar, alimentação balanceada, exercícios físicos e tratamentos estéticos de ponta, surge um denominador comum implícito, mas inegável: o custo.
O que essas mulheres famosas , entre 51 e 62 anos, têm de fato em comum? Dinheiro, muito dinheiro!
Com o acesso a um capital que transforma o envelhecimento de um processo biológico em um projeto de estilo de vida. Elas personificam uma nova era da longevidade, mas uma era cercada por um muro de recursos financeiros.
Enquanto essa realidade midiática vende a ideia de uma velhice domesticável e quase reversível, a experiência da grande maioria dos brasileiros pinta um quadro drasticamente diferente.
A renda define o envelhecimento
O envelhecimento no Brasil tem, antes de tudo, um aspecto definidor e cruel: a renda. Ter dinheiro não é apenas um conforto; é um determinante social da saúde. Significa acesso a médicos especialistas, medicamentos de última geração, planos de saúde abrangentes, alimentação nutritiva e a possibilidade de manter uma rotina de exercícios e cuidados preventivos. É a diferença entre uma velhice com vitalidade e uma velhice marcada pela vulnerabilidade.
A lucidez da médica pneumologista Margareth Dalcolmo, em recente entrevista ao programa “Sem Censura”, vai ao cerne da questão. Ao afirmar que “ter dinheiro contribui para uma velhice mais saudável”, ela desvela uma verdade inconveniente. Sua fala também joga luz sobre outro pilar essencial, porém mais democrático: as vacinas. Ela lembra que a política pública de imunização foi decisiva para a longevidade no país, um triunfo da saúde coletiva. No entanto, esse mesmo triunfo evidencia o próximo grande desafio.
Se as vacinas mostram o poder do Estado em prolongar a vida, a fala subsequente de Dalcolmo aponta a dívida: é urgente criar políticas públicas robustas que garantam aos idosos de baixa renda não apenas anos a mais de vida, mas qualidade de vida nesses anos, com acesso a médicos, medicamentos e uma assistência estatal digna.
Os dados demográficos não mentem e pressionam por ações imediatas. Estudos projetam de acordo com o IBGE, que “em 2030, o Brasil terá a quinta população mais idosa do mundo, um marco histórico onde o número de idosos superará o de crianças. Até 2050, estima-se que cerca de 30% dos brasileiros terão mais de 60 anos.”
Estamos nos tornando um país de cabelos grisalhos, mas nossas estruturas da saúde à mobilidade urbana, do mercado de trabalho ao sistema previdenciário ainda são concebidas para uma população majoritariamente jovem!
Os desafios são multifacetados: como garantir a saúde física e mental dessa população? Como criar cidades com mobilidade adequada para quem tem limitações? Como fomentar a empregabilidade para quem deseja ou precisa trabalhar após os 60 anos? São questões complexas que exigem respostas urgentes.
Portanto, a pergunta central do nosso tempo não é “como não envelhecer”, como sugerem o glamour das capas de revista.
A pergunta verdadeiramente crucial e angustiante é: quem pode pagar por um envelhecimento saudável? O Brasil do futuro será moldado pela resposta que dermos hoje a esse questionamento.
Será um país onde a longevidade será um privilégio de poucos ou um direito de todos? O preço de envelhecer não deveria ser, literalmente, o que define a dignidade dos nossos anos finais.






















