Houve um tempo em que envelhecer significava desaparecer. No mercado de trabalho, nos espaços de decisão, na mídia, a narrativa era silenciosa, quase invisível. Hoje, em meio a mudanças demográficas e sociais, esse silêncio começa a ser rompido. Os discursos sobre diversidade etária ganham força, e finalmente reconhecemos o valor de profissionais e cidadãos com 50, 60, 70 anos ou mais.
Mas há um risco sutil, e perigoso, nesse movimento. Na ânsia de corrigir séculos de exclusão, estamos criando novos estereótipos. Trocam-se rótulos negativos por positivos: “os 50+ são resilientes”, “os 60+ são sábios”, “os 70+ são inspiração viva”. Embora bem-intencionadas, essas narrativas ainda enquadram pessoas em categorias que não lhes pertencem.
E o problema não é restrito à longevidade. Também vemos o mesmo efeito nos jovens. Os 20+, 30+ e 40+ são descritos como hiper conectados, inovadores por natureza, impacientes, ávidos por mudanças. Mas quem disse que toda pessoa de 40 anos deseja empreender? Ou que um profissional de 25 anos domina tecnologias emergentes apenas por ser nativo digital?
A idade é um dado biográfico, não um destino. Ela não define curiosidade, capacidade de aprender ou desaprender, nem a coragem de assumir riscos ou a necessidade de estabilidade. É ilusório pensar que gerações inteiras compartilham valores e comportamentos homogêneos.
No ambiente corporativo, isso se manifesta em políticas que valorizam a diversidade etária, mas acabam reproduzindo clichês: programas para “mentoria reversa” que partem do pressuposto de que jovens sempre ensinarão tecnologia e veteranos sempre oferecerão sabedoria; campanhas de comunicação que mostram apenas octogenários correndo maratonas ou CEOs com menos de 30 anos transformando indústrias. A realidade é muito mais plural.
Se queremos combater o etarismo de verdade, precisamos abandonar o hábito de falar sobre gerações e começar a ouvir pessoas. Cada trajetória é única. Na mesma equipe podem coexistir um jovem que valoriza segurança e um profissional 60+ disposto a “disruptar” modelos de negócio. E por que não? Experiência e inovação não são monopólios etários.
Ao criar diálogos intergeracionais baseados em respeito e curiosidade, e não em pressupostos, evitamos o risco de envelhecer as ideias enquanto tentamos rejuvenescê-las. A diversidade etária só será plena quando deixarmos de ver idade como identidade coletiva e passarmos a enxergá-la como apenas um dos muitos elementos que compõem o ser humano.
Não se trata de negar as contribuições de cada geração. Trata-se de reconhecer que indivíduos são mais do que datas de nascimento. Combater o etarismo, em qualquer direção, exige desconstruir estereótipos, mesmo os que parecem “bonitos” à primeira vista.
A maturidade não é garantia de sabedoria. A juventude não é garantia de inovação. E ambos, quando bem integrados, podem criar organizações e sociedades mais ricas, dinâmicas e, sobretudo, humanas.