“Pai, você não está entendendo. Você está perdido.” (frase dita pelo adolescente Adam, filho do policial Luke Bascombe na minissérie Adolescência)
A minissérie “Adolescência”, o mais recente sucesso da Netflix, aborda temas profundos e perturbadores que refletem questões sociais urgentes.
A história de um adolescente de 13 anos que comete um assassinato brutal contra uma colega de escola serve como um ponto de partida para explorar problemas como bullying, misoginia, violência, discurso de ódio, o impacto das redes sociais e as dinâmicas familiares, muitas vezes, disfuncionais. Esses temas são especialmente relevantes hoje, já que a violência entre jovens e o uso abusivo das redes sociais têm se tornado cada vez mais comuns.
A minissérie, embora fictícia, reflete uma realidade preocupante: a crescente violência praticada por adolescentes, tanto dentro quanto fora das escolas.
Esse fenômeno pode ser atribuído a uma combinação de fatores, como a falta de suporte emocional, a exposição precoce a conteúdos violentos, a pressão social e a influência negativa das redes sociais, que muitas vezes exacerbam conflitos e promovem comportamentos agressivos, especialmente nos meninos.
Além disso, a minissérie levanta questões sobre a responsabilidade dos adultos e da sociedade em geral na formação desses jovens. A falta de diálogo, a negligência emocional e a incapacidade de identificar sinais de alerta podem contribuir para que situações extremas, como a retratada na série, ocorram.
Apesar de deixar muitas perguntas sem respostas, a minissérie “Adolescência” cumpre o papel de provocar a reflexão sobre como estamos lidando com essas questões na vida real. A violência entre jovens não é um problema isolado, mas sim um sintoma de falhas maiores em nossa estrutura social, educacional e familiar.
No Brasil, a violência nas escolas públicas ou particulares tem se tornado cada vez mais alarmante. Casos de agressões físicas, cyberbullying, vazamento de imagens íntimas e discursos de ódio são frequentes e, muitas vezes, estão ligados a uma cultura machista e misógina que é perpetuada tanto online quanto offline.
As redes sociais se tornaram um espaço onde o ódio e a violência são amplificados, especialmente quando jovens são influenciados por grupos ou indivíduos que promovem comportamentos agressivos e desrespeitosos.
Não podemos esquecer a morte do adolescente Carlos Teixeira, de 13 anos, em abril de 2024, vítima de bullying e de um brutal espancamento praticado por seus colegas dentro de uma escola pública de Praia Grande/SP.
A escola deveria ser o local de acolhimento, empatia, solidariedade e não um local de bullying, violência e terror.
A relativização da violência, o descaso pelos alunos que sofrem todo tipo de ameaças e insultos dentro da escola, profissionais despreparados, os órgãos públicos totalmente omissos e ineficientes contribuem para o aumento da violência entre os jovens.
A minissérie “Adolescência” também é uma produção relevante e necessária, especialmente em um contexto como o do Brasil, onde a violência contra a mulher é uma questão gravíssima!
A escalada da violência de gênero no nosso país é um problema social profundo, que envolve questões
culturais, estruturais e de desigualdade.
Ao abordar o ódio contra as mulheres, a minissérie tem o potencial de conscientizar e provocar reflexões sobre o machismo estrutural, a normalização da violência e a importância de combater essas práticas.
A minissérie, além de um entretenimento de qualidade, serve como um alerta para a necessidade de ações mais efetivas no combate ao bullying, à misoginia e à violência, além de destacar a importância de um ambiente familiar e escolar mais acolhedor e atento às necessidades emocionais dos adolescentes.
Como mãe de quatro filhos, dois adultos e dois adolescentes, recomendo que assistam à minissérie “Adolescência”; uma excelente ferramenta para ajudar famílias e escolas a entenderem melhor os desafios e as complexidades dessa fase da vida, que por muitas vezes pode ser sombria e solitária.